"Mesmo com as vendas em alta, a montadora decidiu adiar a inauguração de sua fábrica em Itirapina (SP). Exagero? Nem tanto
Os executivos da Honda tinham todos os motivos para festejar. De janeiro a setembro, as vendas da montadora japonesa cresceram 17%, enquanto o mercado de automóveis leves como um todo recuou 20%. O sucesso do modelo HR-V – o SUV compacto da marca, lançado em março – é tão grande que o consumidor que quiser levá-lo hoje para casa encontrará uma fila de espera de dois meses nas concessionárias. Mesmo com todo esse clima favorável, a Honda preferiu frear.
Na sexta-feira 30, a empresa informou que sua fábrica em Itirapina, no interior de São Paulo, que está pronta, não será mais inaugurada em 2016, como previsto. Orçada em R$ 2 bilhões, a planta com capacidade para produzir 240 mil carros por ano ficará fechada “Assim como as demais fabricantes, a Honda também tem sentido as dificuldades do mercado”, informou a empresa.
O que para alguns soa como excesso de conservadorismo, os analistas preferem chamar de planejamento. Ainda que a Honda esteja crescendo muito acima da média do mercado, há indícios de que a festa pode estar para acabar. “A espera pelo HR-V é de dois meses, mas até quando? Tudo leva a crer que essa fila vai acabar em breve”, diz Raphael Galante, da Oikonomia, consultoria especializada no segmento automotivo. De fato, essa é a visão dentro da própria montadora.
“Estamos projetando estabilidade no volume de vendas para o próximo ano, o que poderá ser suprido pela fábrica de Sumaré”, confirmou a companhia, por meio de um comunicado. Segundo a previsão da consultoria Tendências, a produção de automóveis deve registrar uma queda de 20% este ano, e outros 3,5% em 2016, com 2,29 milhões de veículos leves. O número é 34% inferior ao recorde de 2013, quando o País produziu 3,48 milhões de unidades. Há outras questões, porém, que ajudam a entender a postura da Honda. “O componente cultural não pode ser ignorado. Eles têm um histórico de planejamento muito acima da média”, diz o consultor da Oikonomia. Um bom exemplo, segundo Galante, ocorreu em 2012.
Na época, o modelo CR-V vinha do México e, apesar do sucesso, com clientes ávidos pelo carro, a Honda decidiu não ultrapassar a cota de importados, pois isso acarretaria em uma alíquota de 30% sobre o produto. No Brasil desde 1992, a empresa vem optando por um crescimento gradual e ao mesmo tempo consistente, resultando em um market share de 7% em setembro.“Eles realmente são mais cautelosos”, diz Augusto Amorim, analista da IHS. “Não é que desistiram da fábrica, apenas chegaram à conclusão de que, se ligassem as máquinas, haveria excesso de capacidade”, completa."
Referência: http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/negocios/20151106/honda-direcao-defensiva/315442